Entrevista publicada no Jornal O Jogo

"Tem de acabar esta monarquia"

Candidato da Lista B diz que o poder tem andado "à roda de meia dúzia de pessoas"

R.C.

Travessa da Boa-Hora à Ajuda, n.º 37: ali funciona a sede de candidatura da Lista B, encabeçada por Duarte Ferreira, que escolheu este local por ser “uma espécie de coração” dos adeptos do Belenenses. Ontem, O JOGO foi conhecer as principais ideias do candidato.

O Belenenses é uma espécie de segundo clube de todos os portugueses. Sente-o como um emblema especial?

É especial pela sua história. Tem um passado muito rico, tem sócios e adeptos em qualquer parte do mundo. Onde quer que eu vá – e viajo muito –, encontro sempre um adepto. O Belenenses é um monstro, mas é um monstro adormecido, e nós temos de o acordar. O clube tem um potencial enorme, e estou convicto de que, com a minha equipa, vou ressuscitá-lo.

Essa é um ideia que tem sido defendida por outras pessoas, mas a verdade é que, até agora, ninguém conseguiu acordar o monstro…

Sabe porquê? Porque o Belenenses é uma monarquia, mas tem de acabar esta monarquia que existe no clube. Ao longo dos anos, se formos a ver, os presidentes passam a vice-presidentes e vice-versa. Com os directores, a mesma coisa, e aquilo anda ali à roda de meia dúzia de pessoas. A minha candidatura é de gente jovem, com pessoas estáveis profissionalmente e em que ninguém precisa do clube. Connosco, o clube vai voltar a ser grande, em tudo. Grande nos êxitos desportivos e, acima de tudo, em cumprir os seus compromissos com toda a gente, o que não acontece agora.

Há quem diga que este plantel de futebol é demasiado caro para a realidade do Belenenses…

O clube gasta mais do que aquilo que pode, vive acima das suas possibilidades, mas temos de aproveitar toda a estrutura desta equipa – e até reforçá-la.

Pode garantir aos sócios que, se for eleito, o Belenenses vai continuar a ter um plantel a este nível?

O plantel de futebol tem de ter um nível ainda mais elevado do que o actual. Se formos à Taça UEFA, temos que ter uma equipa condigna com o prestígio do clube. Temos de melhorar a equipa .

Tem algum craque na manga, como é hábito fazer-se em tempos de eleições?

Estamos a trabalhar nisso, mas a primeira palavra será de Jorge Jesus – não vamos fazer nada sem o contactar.

"Sou um líder e gosto de trabalhar em equipa"

Neste momento, é gestor na Unicer. Se for eleito, essa vertente profissional pode ser-lhe útil? Não tenho dúvidas nenhumas disso. Na empresa onde actualmente trabalho, tenho orçamentos, tenho de os gerir com os distribuidores e tenho de respeitar um plano de rentabilidade. Sou obrigado a ter uma gestão rigorosa.

Gosta de liderar pessoas?

Gosto e tenho tido muito sucesso nisso. Para mim, só faz sentido trabalhar em equipa, valorizo muito esse espírito. Essa é uma das principais características de um líder, e eu sou um líder e gosto de trabalhar em equipa.

"Haverá dinheiro para dar o salto"

Duarte Ferreira garante que a candidatura da Lista B está sustentada num forte apoio financeiro. Não adianta ainda pormenores, apenas diz que é uma “marca internacional já muito ligada ao futebol”.

Para curar o clube da doença de que diz padecer, será preciso muito dinheiro. Como pensa obtê-lo?

Estamos a trabalhar para conseguir apoios nacionais e internacionais – mais do que nunca, mas não pondo em causa a posição accionista do Belenenses. Temos já fortes apoios, tanto nacionais como internacionais, e posso adiantar que a marca internacional – não posso é dizer qual é, por uma questão de princípios – está já muito ligada ao futebol.

Mas está garantido o apoio expresso dessa marca?

Há contactos muito adiantados, e, se ganharmos as eleições, fica garantido.

Em termos de dinheiro, o que pode significar esse apoio?

Muito, muito dinheiro. Para dar o salto. O Belenenses tem de se reforçar e bem, para rendibilizar a participação nas competições europeias, o que penso estar quase garantido. Se formos eleitos, como pensamos ser, vamos reforçar a equipa e pô-la com valores para podermos ter uma participação brilhante.

Você é gestor da Unicer, que trabalha com marcas como a Carlsberg ou a Guinness. É com uma dessas marcas que tem o acordo?

Pode não ser ligada à Unicer – pode ser e pode não ser. Neste momento, não posso dizer.

"Cabral Ferreira não escolheu Jesus"

Como avalia os outros candidatos?

Gouveia da Veiga peca por não estar apoiado numa área fulcral como é a financeira. Quanto a Cabral Ferreira, continua a enganar os sócios, é uma pessoa sem ideias, não percebe nada de gestão e não consegue traçar objectivos. Ou seja, não tem perfil para ser presidente. A Cabral Ferreira, por exemplo, nunca passou pela cabeça que Jorge Jesus pudesse ter bons resultados. O seu primeiro nome para treinador era Vítor Oliveira, depois o Vítor Pontes, e só depois de muita insistência da Direcção e dos sócios é que se optou pelo Jesus.

Modalidades para manter

Qual a sua política para as modalidades?

São todas para manter. Cabral Ferreira, por exemplo, dizia que o basquetebol era para manter, mas só não acabou porque os directores tiveram de pressioná-lo. Comigo, nada vai acabar. Quanto mais modalidades tiver o clube, melhor, até por razões de negociação com as televisões e com os patrocinadores.

Adiamento solicitado

A Lista B enviou ontem uma carta a Machado Rodrigues, presidente da Assembleia Geral, a solicitar o adiamento das eleições, por enquanto marcadas para o dia 28 de Abril. Duarte Ferreira pretende que as mesmas se realizem “lá para 4 ou 5 de Maio”, ou seja, depois da AG para aprovação do Relatório e Contas. Esta lista tem ainda agendadas, para os dias 11 e 18 de Abril, na sede de campanha (Travessa da Boa Hora, n.º 37 A e B), duas sessões de esclarecimento aos sócios.